Experiências Adversas na Infância e Envolvimento com Gangues

Mauricio Scopel Hoffmann

A violência no Brasil tem raízes muito profundas. Uma delas pode estar na forma como tratamos e lidamos com as crianças desde cedo. Uma pesquisa de cientistas do grupo DOVE (clique aqui), publicado em outubro deste ano (leia neste link), investigou a relação entre experiências adversas na infância e o envolvimento em gangues nas pessoas nascidas em 1993 na cidade de Pelotas. 


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O estudo revelou que crianças expostas a múltiplas experiências adversas na infância – como violência doméstica, abuso emocional e abuso físico (ou seja, bater nas crianças) – têm um maior risco de envolvimento com gangues aos 18 anos. 


No entanto, outras experiências adversas como pobreza, discriminação e morte parental não foram associadas ao envolvimento com gangues. Aqueles com quatro ou mais adversidades tinham até oito vezes mais chances de se unir a gangues. Esses achados indicam que estratégias preventivas focadas na redução de adversidades na infância podem ser essenciais para diminuir a criminalidade e promover comunidades mais seguras. 


Cada vez mais fica demonstrado que “bater e apanhar” não é uma estratégia educativa eficaz. Muito pelo contrário.


Benefícios de restringir o açúcar na infância

Cada vez mais sabemos que fatores muito precoces podem impactar a saúde das pessoas. Uma das coisas mais comentadas nos últimos anos tem sido sobre a qualidade da nossa alimentação. Os impactos disso podem ocorrer mesmo quando estamos no útero da nossa mãe.


Um estudo de Gracner e colaboradores, publicado na revista Science (confira aqui), demonstrou que a restrição do consumo de açúcar nos primeiros anos de vida pode reduzir o risco de doenças crônicas, como diabetes tipo 2 e hipertensão, na vida adulta. Ao analisar o impacto do racionamento de açúcar no Reino Unido após a Segunda Guerra Mundial, os pesquisadores descobriram que crianças expostas a menores quantidades de açúcar nos primeiros 1.000 dias de vida, desde a concepção, apresentaram uma redução de cerca de 35% no risco dessas doenças e um adiamento no seu início. 


A maior parte do efeito, porém, está na restrição de açúcar após o nascimento até os dois anos de idade. Esse estudo reforça a importância de padrões alimentares saudáveis desde a gestação até a primeira infância para a saúde a longo prazo.


Redução no uso de cannabis e melhorias funcionais

O uso de cannabis, em forma de maconha e outros, é uma realidade no Brasil e no mundo, independente de proibição ou não. Sabemos também que esta droga tem múltiplos efeitos no cérebro. Entre eles, há alterações e lentificação no pensamento e risco para descolamento da realidade, o que chamamos de psicose. Uma análise conduzida por McClure e colaboradores (disponível aqui) examinou a associação entre a redução do uso de cannabis e melhora em aspectos funcionais (conseguir fazer tarefas no dia a dia, sono, qualidade de vida, etc.). 


A análise agregada de sete estudos clínicos nos Estados Unidos revelou que reduzir os dias de uso pela metade e a quantidade em um quarto causou melhora em problemas relacionados ao uso, qualidade do sono e funcionalidade geral, sugerindo que a redução no uso pode trazer benefícios para as pessoas que usam cannabis.

 

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